É preciso se transformar, pois a vida é o movimento na sucessão das passagens.
O nascimento
Um feto está seguro dentro do útero da mãe. Tem casa (útero), comida (cordão umbilical), roupa (líquido amniótico) e as suas necessidades fisiológicas básicas satisfeitas.
O parto é o período quando tudo se modifica. O feto sai (ou é tirado) do útero, despe-se do líquido amniótico que o agasalhava, cai-lhe (ou lhe é cortado) o cordão umbilical que o alimentava para chegar a um ambiente aberto, onde o pegam e logo enrolam na sua nova roupa, cuidam dele no que for preciso, aspiram, movimentam, tocam, para começar a sua vida extra-uterina.
Para esse parto, passagem da vida no mundo líquido para o aéreo, a que assistimos, não estamos vendo as grandes transformações internas que ocorrem dentro do feto, como na alimentação, circulação, respiração, movimentação, etc.
Para exemplificar essas transformações internas pensemos na respiração. O feto respira através da retirada do oxigênio do sangue da mãe que lhe chega via cordão umbilical. Assim que nasce, seus pulmões têm que se expandir para deixar o ar entrar. Desde então, todo o oxigênio necessário tem que vir da aspiração do ar do recém-nascido. Para esse ato da primeira respiração do ar, a biologia trabalhou a gravidez inteira para preparar esse pulmão. Se não tiver o pulmão bem formado, não haverá a primeira respiração e o recém-nascido morrerá. Isso não depende dos parteiros, nem do hospital, nem de ninguém a não ser da sua própria biologia.
Portanto, o momento da grande passagem do feto para o recém-nascido é o parto. Nesse processo, muitos problemas podem acontecer: o útero não dilatar; a pressão arterial da parturiente subir muito (eclampsia); o parto ser muito demorado e o feto entrar em sofrimento; o cordão umbilical pode enforcar o feto na saída do útero; infecções podem ocorrer tanto no feto como na parturiente; etc. Não entremos em muitos detalhes para não apavorar as futuras mamães.
A adolescência
Assim também é a adolescência, um segundo nascimento na vida de grandes transformações desenvolvimentistas biopsicossociais. Durante a infância, ele vai se preparando e sendo preparado para a puberdade quando deixa de ser criança e passa a ser adolescente. Assistimos às mudanças exteriores, mas estas são conseqüências de um longo preparo biopsicológico interno.
Os problemas podem surgir tanto de dentro do púbere para fora, como de fora para dentro. De dentro para fora poderia acontecer a puberdade tardia ou precoce, no todo ou em alguns aspectos.
Um sério problema de fora para dentro é o que acontece na Síndrome da Quinta Série. Um menino com 11 anos geralmente não está biologicamente preparado para atender algumas exigências da 5a série. Como as meninas atingem a puberdade mais cedo que os meninos, elas estão mais capacitadas que os meninos para enfrentarem essa mesma série. É por isso que os meninos repetem mais que as meninas. A 5a série seria o Io ano do antigo ginásio, quando havia o ritual de passagem que atendia bem esse parto, porque lhe dava o tempo necessário para amadurecimento.
Não menos grave é os pais lidarem com suas crianças como se fossem adolescentes ou com adolescentes como crianças, gerando conflitos homéricos. Períodos de passagens - perda ou ganho profissional, separação conjugal, puberdade, menopausa, aposentadoria, migrações territoriais, entradas e saídas de casa (carro, aeroporto, restaurantes, festas, etc.) - são mais perigosos que situações e estados já- estabelecidos.
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Içami Tiba
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